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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Carta aberta ao Reitor José Geraldo e a Comunidade da UnB

Magnífico Reitor da Universidade de Brasília, Professor Dr. José Geraldo de Sousa Júnior. O senhor foi eleito reitor da UnB em setembro de 2008, sob a chancela do MEC, do governo Lula e do PT, e com o apoio, no primeiro ou no segundo turno, da imensa maioria dos estudantes, professores e funcionários que sustentaram a vitoriosa ocupação da reitoria que desencadeou o movimento democrático que deu cabo da administração corrupta, privatista e clientelista de Timothy Mullholand. Sua plataforma de campanha foi baseada na mais ampla democratização da UnB, teve como slogan catalisador a sua refundação, como síntese programática a “gestão compartilhada”, e encampou esta que era então uma das reivindicações centrais do movimento que levou a queda de Timothy: a convocação imediata do Congresso Estatuinte Paritário, visando a tão ansiada refundação democrática da UnB.

Ao longo de três anos na administração, podemos hoje dizer que sua opção politica foi clara: afastar-se dos compromissos políticos, do programa e da base de apoio que o elegeu. A convocação do Congresso Estatuinte Paritário, que deveria ter sido o primeiro ato de sua gestão, foi simplesmente deixada de lado. A despeito dos obstáculos no Consuni, todos somos testemunhas de que o senhor, que dividiu sua administração e moveu mundos e fundos para assegurar o credenciamento da FINATEC, na contramão das recomendações do Ministério Público, jamais moveu uma palha para cumprir o que era o principal compromisso político de sua gestão. Mais do que isso, ao invés de proceder de forma pública e transparente as devidas investigações sobre a corrupção que havia se instalado na UnB, ao invés de dar consequência às dezenas de processos disciplinares que haviam sido preparados pela gestão pro tempore da UnB nos meses que se seguiram a queda de Timothy, o senhor preferiu varrer a poeira para debaixo do tapete, como se nada tivesse ocorrido, dando a entender que a impunidade era a melhor solução política para a UnB. Sua base de apoio, que não teria apoiado as opções políticas que o senhor fez, jamais foi consultada sobre elas, como de resto sobre nenhuma das decisões que foram tomadas em sua administração. Ao abster-se das medidas necessárias para de fato “refundar a UnB”, numa conjuntura extremamente favorável para isso, sua gestão começou a mostrar o que seria a sua verdadeira face. Desde então, a maciça exploração publicitária em torno da “gestão compartilhada” e da “refundação da UnB” tornaram-se slogans publicitários vazios, que ao remeter ao programa pelo qual o senhor havia sido eleito, serviram apenas para ressaltar o abismo crescente que se abriu entre sua gestão e os compromissos políticos pelos quais o senhor foi eleito por nossa comunidade para gerir a UnB após a maior crise de suia história. Democracia não significa apenas abster-se do uso da repressão. A refundação da UnB, cujo caminho havia sido triunfalmente aberto pela ocupação estudantil, foi simplesmente interrompida por sua gestão, sem que o senhor jamais tenha sentido a necessidade de vir a público explicar as razões que o teriam levado a isso.

Esta carta aberta se tornaria ilegível se nela tivéssemos de considerar as inúmeras confusões, as promessas e compromissos quebrados, os descasos, as protelações, os atropelos e desmandos administrativos que marcaram sua gestão. Quem vive no chão da universidade sabe que, sobre isso, cada um de nós tem suas histórias para contar. Mas há um ponto sobre o qual temos de nos deter: foi na gestão de José Geraldo que a UnB está passando pela maior expansão de sua história. Durante os dois primeiros anos do programa de expansão, nunca existiram tantas obras, tanto dinheiro, tantos concursos na história da UnB, certamente uma das universidades mais bem aquinhoadas pelo Reuni. Não obstante, no momento em que as verbas para a educação pública foram cortadas, os cofres públicos trancados a sete chaves (exceto para os banqueiros e o grande capital) e a torneira de recursos do Reuni foi fechada pelo governo Dilma, o legado histórico que esta expansão pode deixar vem se tornando motivo de muitas lutas e de grave inquietação na UnB e em todas as instituições federais de ensino superior do país.

O caso emblemático dos campi do Gama, Ceilândia e Planaltina, que espelham a realidade precária dos novos campi, dos novos cursos e das novas instituições que foram criadas nos últimos anos, e a situação também precária de muitos dos cursos do campus Darcy Ribeiro, fazem com que hoje todos comecem a se defrontar com o principal desafio político que teremos de enfrentar nos próximos anos: devemos aceitar que o preço a se pagar pela necessária expansão da universidade pública seja a sua precarização extrema? Deixando de lado as vicissitudes que poderíamos considerar congênitas a expansão, as obras sistematicamente suspensas, atrasadas ou mal concebidas, as trágicas mortes de operários que tiveram suas vidas ceifadas pela falta de condições mínimas de segurança no trabalho nas obras do HUB, etc., não há como deixar de lado o que pode estar se tornando a “herança maldita” da expansão: o aumento da carga letiva dos professores; a sobrecarga de trabalho a que muitos de nós estamos submetidos; as salas de aula cada vez mais cheias; as instalações cada vez mais saturadas; a precariedade e a inadequação crescentes da infra-estrutura mínima para o ensino, a pesquisa e a extensão; a precarização do quadro funcional de servidores técnico-administrativos, corroído e cada vez mais desmotivado pelos mais baixos salários do serviço público federal e pela expansão contínua dos milionários contratos de terceirização de mão de obra barata e super-explorada, com taxas de lucro exorbitantemente suspeitas; a drástica diminuição per capita dos recursos destinados a universidade, a clara insuficiência de recursos para a assistência estudantil, e a forma como estes e outros problemas podem pôr em xeque a concepção histórica da universidade pública de qualidade, fundada no tripé indissociável entre ensino, pesquisa e extensão. Não há como se imaginar que esta situação possa ser superada se considerarmos que a maior parte dos ingressos de novos estudantes ainda está por ocorrer. Realisticamente, estamos diante de um processo de precarização que, se nada for feito, tende apenas a se aprofundar.

Numa situação como essa, o Reitor de nossa Universidade deveria assumir como suas todas as demandas, todas as reivindicações e todas as lutas que estão hoje se espalhando pela UnB, ao invés de se confrontar com elas. Numa situação como esta, o Reitor deveria convocar a comunidade universitária para um diálogo franco em torno do quadro de precarização que está se instalando. Numa situação como essa, todos os membros da comunidade deveriam ser mobilizados para produzir o mais amplo, preciso e completo diagnóstico da situação de calamidade para a qual estamos nos dirigindo e reunir forças a fim de enfrentá-la. Numa situação como essa, o Reitor deveria se colocar à frente da comunidade para liderar um processo de mobilização permanente da UnB contra o quadro de precarização que está se “naturalizando” entre nós. Somente assim seria possível sensibilizar a sociedade e ganhar seu apoio na luta que temos a travar contra um processo de precarização que ameaça a excelência da Universidade e o patrimônio social, cultural e histórico inestimável que ela construiu ao longo de sua história de quase 50 anos. Mas não é esta atitude de nosso Reitor, que claramente se comporta como um representante do governo diante da comunidade, e não como um representante da comunidade diante do governo.

Por fim, a todos e todas que confiaram ao Prof. José Geraldo a missão de liderar a “refundação da UnB” após a maior crise política e institucional de sua história e hoje se sentem, em sua grande maioria, amargamente frustrados, decepcionados, desiludidos, mas não desistiram de sonhar e lutar, e por isso se questionam sobre os rumos que deveremos tomar para estar à altura dos grandes desafios históricos que estão colocados para a UnB. Assim como em 2008, estamos diante de uma encruzilhada histórica: de um lado, em face da situação caótica que a gestão de José Geraldo instalou na UnB, os fantasmas de nosso passado recente voltam a nos assombrar; de outro, em face do processo de precarização em curso, nos achamos ameaçados por um enorme retrocesso histórico nas condições mais elementares de existência da Universidade. José Geraldo já demonstrou não ter as ter as mínimas condições para enfrentar estes desafios. Por ter se afastado conscientemente do programa, dos compromissos e da base que o elegeu, perdeu a autoridade, o apoio e a credibilidade que hoje se fazem necessárias para enfrentar, com sucesso, tanto os fantasmas do passado como os desafios do presente e do futuro. Mas isso não pode e não deve nos levar a uma dispersão de forças que seria fatal. Para além das divergências que possamos ter, é chegada a hora dos membros da comunidade universitária que se referenciam no programa histórico da universidade pública, gratuita, autônoma, democrática, laica e de qualidade socialmente referenciada somarem forças numa grande frente pela refundação da UnB.

Brasília, 21 de setembro de 2011

Rodrigo Dantas 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Em Brasília 30 mil pessoas se reúnem na 14º Parada LGBT


LUCAS BRITO DE LIMA, DE BRASÍLIA (DF) 


• No último dia 18 de setembro, na capital do país, uma concentração de pessoas chamou a atenção. Marcado pra iniciar às 14h, no eixão, que é a principal avenida da cidade, o movimento teve de desafiar o sol forte e os cem dias sem chuva que se “comemoravam” naquele dia. A 14º Parada LGBT da cidade pintou de todas as cores o centro de Brasília. Foram vários carros de som que colocavam os presentes para sair do chão sob os estímulos das principais cantoras do mundo pop hoje. Muita animação, sorrisos e expressão livre de afeto.



Nessa parada a comunidade LGBT presenciou um pôr do sol diferente. Nos despedimos daquele domingo com o grito de liberdade e a expectativa de que um dia o afeto seja apenas um afeto, sem ser aprisionado, negado e alvo de ódio e violência. Com esse pôr do sol, 30 mil lésbicas, gays, travestis, transexuais, transgêneros e héteros. Solteiros, casados, pais e mães, filhos e filhas construíram uma grande parada, em número de pessoas e pelo tamanho da tarefa: lutar contra a homofobia da sociedade.

Ôôô Dilma, eu quero ver PLC original acontecer!
Nada melhor que 30 mil pessoas dizendo que tem orgulho de serem LGBT's para responder aos últimos escândalos que dividiram a sociedade. Nos últimos meses foram vários os casos de violência sofrida por LGBTs'. Esses casos deixam graves ferimentos, na carne e na alma. Muitos desses casos levam à morte. O Brasil está no topo de um vergonhoso ranking: o país com maior assassinato de LGBT onde a cada 36 horas um assassinato. É natural que diante desse cenário o movimento faça exigências ao governo federal. A criminalização da homofobia foi a principal bandeira dessa parada.

No último semestre foi claro a postura do governo. A política da “Escola sem Homofobia” foi, explicitamente, trocada ela cabeça do Palocci, então ministro de estado, que estava sob sérios indícios de corrupção. Agora uma bandeira histórica da comunidade LGBT que é a PLC 122 está sendo desmontada por uma negociação entre a senadora Marta Suplicy e a bancada evangélica do congresso.

Uma grande festa que pode ser muito maior!
Mais uma vez a parada foi uma grande festa. Diante dos inúmeros casos, cotidianos, de homofobia e da política do governo, é fundamental que o movimento se organize e politize suas mobilizações. 30 mil pessoas em uma grande festa tem um grande impacto, mas 30 mil pessoas em uma grande manifestação tem um impacto superior. E tudo isso tem um financiamento, em geral, das empresas do “mercado Pink”. É fundamental também pensar sobre os meios de financiamento do movimento que garanta a independência política do movimento. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

40 mil em Brasília contra a Corrupção

Espontaneidade na convocação demonstra indignação dos brasileiros

Tudo começou como um convite no facebook, para usar o “dia da independência do Brasil” para protestar contra toda a corrupção que se abate sob o governo brasileiro, o congresso nacional, e as empresas públicas. Nos dias seguintes, emails começaram a circular com o mesmo chamado, convocando a população brasiliense a vestir-se de preto e demonstrar sua indignação.
Na manhã desta quarta-feira, milhares de pessoas vestidas de preto, entre jovens, famílias com crianças, estudantes, caminhavam em direção ao Museu Nacional da República, local marcado para a concentração do ato. Enquanto isso do outro lado da rua, no lado sul da esplanada, a presidente Dilma prestigiava o desfile militar oficial em comemoração à dita "independencia do Brasil".
Por volta das 10h30 os manifestantes começaram a marchar em direção ao congresso nacional, cantando palavras de ordem como "Ô Dilma, presta atenção, o brasileiro não quer mais corrupção" e "Voto secreto não, eu quero ver a cara do ladrão". Participaram da marcha setores em greve como os técnicos administrativos das universidades, e os estudantes da ANEL, que levaram faixas com os dizeres: "Absolvição de Jaquelina Roriz: 265 votos. 10 % do PIB para a educação: zero votos!"
Mesmo com o sol forte e a baixa umidade do ar característica desta época do ano em Brasília, os manifestantes se mantiveram firmes até dar a volta por toda a esplanada e voltar. Ao final ainda, alguns fizeram uma lavagem na rampa do congresso, e outros marcharam em direção ao palácio do Buriti, sede do Governo do Distrito Federal.
Entre os manifestantes havia um forte sentimento contra os partidos políticos, resultado do desgaste da população com os principais partidos que estão hoje no congresso nacional. Mas não se pode generalizar, e impedir o direito democrático dos partidos de manifestarem-se também contra a corrupção.
Esta marcha com certeza vai entrar para a história da cidade. Tanto pela rapidez como foi organizada, por fora de qualquer entidade tradicional do movimento como CUT, sindicatos, ou outro tipo de organização. Foi uma demonstração de que o povo de Brasília não quer mais que sua cidade siga ligada às sujeiras que acontecem nos governos e no congresso nacional.